O linho assumiu lugar de
proa no programa de ontem, 13 de outubro, da Festa das Colheitas. Um dia com
enorme simbolismo, dedicado inteiramente à matéria-prima que deu origem a uma
dos grandes ícones do concelho de Vila Verde, os Lenços de Namorados. A recriação
da espadelada de linho tradicional cumpriu um duplo propósito, homenagear a
tradição e os costumes dos nossos antepassados, contribuindo ativamente para a
preservação deste saber ancestral através da passagem de testemunhos às
gerações mais jovens. A encenação foi planeada ao por menor. Não faltaram as
alfaias, os trajes e as cantigas de outrora para colorir uma noite que se
afigurou como mais um autêntico hino ao mundo rural. Galeria Fotográfica: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.837219663059655.1073741900.263620087086285&type=3
Os visitantes, com a
curiosidade aguçada pela demonstração preparada pela ARDC Marrancos, iam
interagindo com os atores locais com o intuito de descobrir um pouco mais sobre
esta arte. A habitual hospitalidade vilaverdense ficou mais uma vez
demonstrada, uma vez que não houve questão que ficasse por responder ou dúvida
que não fosse esclarecida. Para os que não puderam estar presentes, não há motivo
para consternações, já que existe na Festa das Colheitas um setor dedicado
exclusivamente a esta matéria-prima, em que os visitantes podem embarcar numa
viagem pelo ciclo do linho, ficando a conhecer todo o processo, da sementeira à
colheita, que culmina nos belos bordados que adornam os lares tipicamente
minhotos. No final, houve tempo para a ‘prata da casa’ provar que tem bastante
valor. A atuação dos ‘Amigos da Concertina de Vila Verde’ inundou o recinto com
a alegria contagiante dos ritmos da música popular.
Simbolismo muito especial
A vereadora da Cultura
não enjeitou a possibilidade de marcar presença em mais uma iniciativa muito
acarinha por vilaverdenses e visitantes. Júlia Fernandes começou por deixar
rasgados elogios ao trabalho de preservação e promoção desta arte antiga, que
tem vindo a ser desenvolvido pela ARDC de Marrancos, em que assume lugar de
destaque o Sr. Abílio Ferreira, responsável pela organização das primeiras
recriações de espadeladas, ainda nos anos oitenta do século passado, e
benemérito que doou à causa pública todo o espólio existente no Museu do Linho.
“O Sr. Abílio é a alma deste projeto. Todos os anos continua a fazer a sementeira
e a colheita, um trabalho difícil e moroso, para que se continuem a cumprir
todas as diferentes fases do ciclo do linho”, sublinhou.
Júlia Fernandes
prosseguiu referindo que esta é uma prática cada vez menos comum e que este
tipo de iniciativas garantem a continuidade da tradição. “Temos aqui hoje [13
outubro]a recriação de uma prática agrícola rara, que já dificilmente se
encontra pelo país. É também uma forma de mostrarmos como se trabalhava o linho
naquele tempo”, afirmou a vereadora, lembrando que estar arte comporta um
simbolismo muito especial. “Temos um especial carinho pelo linho porque é a matéria-prima
dos nossos Lenços de Namorados. Era nele que as raparigas de então bordavam as
suas quadras de amor e conquistavam os seus amados”, referiu.
Esperança no futuro
A primeira encenação de
uma espadelada do linho tradicional organizada em Marrancos foi há mais de
trinta anos. Na altura, o Sr. Abílio Ferreira, vilaverdense de gema apaixonado
pelas tradições locais, apercebeu-se de que o cultivo do linho começava a
entrar em desuso e, se não fosse tomada uma medida em contrário, corria-se o
sério risco de se deixar este saber cair no esquecimento. A hora era de
arregaçar as mangas e passar à ação. Hoje, os resultados estão à vista. “Na
altura já só os mais velhos sabiam esta arte. Agora, com este trabalho que foi
feito ao longo dos anos, as gerações mais novas também já sabem, garantindo que
este saber não desaparece”, disse. Vários anos mais tarde concretizou-se um
sonhe de longa data. Em 2013 O Museu do linho, situado na antiga escola
primária da freguesia de Marrancos, abria as portas ao público com um espólio
doado inteiramente pelo benemérito marranquenho Abílio Ferreira.
Hoje é o Dia do Vinho
O dia de hoje é dedicado
ao néctar que prestigia o nosso país conhecido em todo o mundo. No Dia do
Vinho, o fim de tarde começa com a 8ª Festa do Vinho, que consiste numa prova
dos vinhos com presença no certame. Destaque para a última recriação de uma
prática agrícola artesanal da edição de 2015, com a pisada de uvas, acompanhada
pela atuação do Rancho Folclórico de Prado S. Miguel, em que a tradição volta a
dar o mote para um serão muito interessante. A noite não podia acabar sem mais
um espetáculo musical, protagonizado pela ‘Orquestra Del Mar’.
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